Desmistificando o dramalhão

Já que o blog tem um nome pra lá de sugestivo resolvi compartilhar com você, caro leitor, as minhas reflexões sobre o quanto estamos equivocados quando resolvemos esteriotipar as novelas mexicanas, os chamados dramalhões. Não entendo o porquê de tanta tristeza, sabe? E acho que nunca entenderei. Pensa só, a menina pode até ter uma vida difícil, perder o pai num penhasco a mãe de uma doença rara e incurável, perder casa e amigos, mas ela tem o sonho da vida de muita mulher hoje em dia, um homem perfeito, que a ama e quer ficar com ela, independente de todas essas desgraças. Tá certo que a vilã vai fazer de tuuuuudo pra que eles fiquem juntos só no último capítulo (com direito a bebê, casamento e essas coisas) mas pelo menos em grande parte da novela a mocinha vi ser a amada e querida pelo homem de nome duplo da vez. Aí, você vai dizer que não faz sentido porque é só em grande parte da novela e não nela inteira, mas pense em todas as novelas mexicanas que você já viu. Pensou? Pois é, quando a mocinha não está com o mocinho ou ela está rica ou está com outro cara! E esse outro cara, vamos combinar nunca é de baixo nível. Pra que chorar então, Brasil, se ela tem a soma que faz os olhos de uma mulher brilharem: homem mais dinheiro? Se os dramas mexicanos fossem mesmo dramalhões eles colocariam um cara mala que a dispensa pelo futebol, que reclama das músicas que ela ouve ou dos programas que ela quer fazer. Isso sem mencionar que eles não escalariam nenhum Luiz Fernando de la Vega ou Daniel Bracho (interpretados pelo galã mexicano número um, o ator Fernando Colunga nas já clássicas "Maria do Bairro" e "A Usurpadora", respectivamente) pra fazer o mocinho e sim um cara de dar dó. Isso sim é que é drama. E dos piores. Imagina só, ser pobre, órfã e ser "amada" por um cara esquisito e grosseirão? Venha agora me dizer que a Maria do Bairro sofreu metade do que essa mulher sofre. Nem de longe. A conclusão que eu chego é que ser protagonista mexicana nem é tão ruim, pelo menos ela pega uns caras bonitões.

Cansei, mas é impossível sair desta novela!

Cansei! Cansei de ter que ser inteligente, cansei de ter que ser bonita, cansei de ter que ser interessante, cansei de ter que ser boazinha, de ter que cozinhar bem, de ser boa dona de casa e parecer que um dia eu vá ser uma boa mãe. Cansei de tentar me enquadrar no padrão masculino de boa mulher. Cansei de ter que sair pra conhecer gente nova, cansei de tentar fazer novos amigos, cansei de tentar "dar mole", cansei mais ainda dos joguinhos, cansei de tentar parecer resolvida e pronta pra uma nova paixão.

As vezes o que eu mais queria era voltar praquela época em que o próprio pai escolhia o homem com quem você iria namorar, casar e ser feliz. Talvez ele soubesse escolher melhor do que eu, porque pelo visto eu sou péssima nisso. Pelo menos eu não teria trabalho algum. Não me sentiria feia, desinteressante nem burra, até porque inteligência não era uma exigência para as mulheres da época. Aliás, as vezes tenho a impressão de que até hoje os homens não fazem questão disso, nunca parece ser uma prioridade em suas escolhas. Certa estava a Silvania quando me disse que "os homens se apaixonam com os olhos e as mulheres com os ouvidos". Conclusão: se a mulher for gostosona terá todos os homens aos seus pés, e se o cara tiver boa lábia terá todas as mulheres que quiser. Isso ouvi quando ainda era uma criança e desde então venho comprovando essa tese.

Por isso me sinto fatigada, com preguiça para os homens. Pois não estou a fim de ser a gostosona e nem consigo mais acreditar no que ouço deles. Mas aí me vem a poesia e destrói todas as minhas verdades. Leio versos de um eu-lírico apaixonado, crente no amor e me dizendo que uma pessoa pode ser a razão da existência da outra, me fazendo acreditar que tudo é tão simples e tão maravilhoso que me dá até vontade de viver esses versos. Com isso me ponho a pensar se esse trabalho todo que consiste um relacionamento vale realmente a pena. Confesso ainda não ter certeza sobre isso. Mas depois de ler estes versos que seguem de Luis Cernuda Bidón, poeta espanhol nascido em 1902 ( que talvez na época em que viveu fosse mais coerente seus versos), pense você amigo, como numa boa cena de novela mexicana, se todo esse drama que muitos chamam de amor, vale realmente a pena:

SI EL HOMBRE PUDIERA DECIR LO QUE AMA

Si el hombre pudiera decir lo que ama,
si el hombre pudiera levantar su amor por el cielo
como una nube en la luz;
si como muros que se derrumban,
para saludar la verdad erguida en medio,
pudiera derrumbar su cuerpo,
dejando sólo la verdad de su amor,
la verdad de sí mismo,
que no se llama gloria, fortuna o ambición,
sino amor o deseo,
yo sería aquel que imaginaba;
aquel que con su lengua, sus ojos y sus manos
proclama ante los hombres la verdad ignorada,
la verdad de su amor verdadero.

Libertad no conozco sino la libertad de estar preso en alguien
cuyo nombre no puedo oír sin escalofrío;
alguien por quien me olvido de esta existencia mezquina
por quien el día y la noche son para mí lo que quiera,
y mi cuerpo y espíritu flotan en su cuerpo y espíritu
como leños perdidos que el mar anega o levanta
libremente, con la libertad del amor,
la única libertad que me exalta,
la única libertad por que muero.

Tú justificas mi existencia:
si no te conozco, no he vivido;
si muero sin conocerte, no muero, porque no he vivido.

O espanhol parece deixar qualquer verso mais dramático, mas creio que esta última estrofe seria digna de uma novela mexicana em qualquer língua.

Você vai me destruir!

Depois de uma night MARA com as minhas amigas MARAS [rsrsrs], vou manter meu espírito dançante e musical e postar aqui uma das músicas mais "novela mexicana" da nossa mpb - "Você vai me destruir" da minha amadíssima Vanessa da Mata, que encontra-se em seu mais novo cd "Sim", que a propósito é maravilhoso! Confesso aos amigos que tenho uma forte tendência a músicas melodramáticas, vide minha banda preferida ser Los Hermanos - afinal quem será mais sentimental que eu?! [rsrs] Depois do infame trocadilho, que só quem conhece LH entenderá, voltemos a música apresentada. "Você vai me destruir" não possui apenas uma letra dilacerada, ela tem todo um ritmo a lá Sidney Magal e Reginaldo Rossi com pitadas modernas de música eletrônica. Possui gradações rítimas que geram a catarse da raiva feminina cantando para o maldito homem que roubou seu coração. Leiamos, então, a letra e façamos os pertinentes comentários - as partes em negrito são, para mim, as mais dramáticas:

Você Vai Me Destruir [Já podemos começar pelo título q abusa da condição de ser dramático]
Vanessa Da Mata
Composição: Vanessa da Mata

Está acabando o amor
Você ainda não veio
Não disse, não ligou
Se vem viver comigo
[Uma mulher desesperada querendo saber se o cara finalmente vai parar de enrolar e casar logo]

Se me quer como amiga
Se não quer mais me ver
Você vai me esquecer
Você vai me fazer padecer
[ Os dois últimos versos são ditos aos prantos, com toda a certeza!]

[Então ela recupera o fôlego e diz:]
Está acabando o amor
Você já não me pertence
Eu vejo por aí
Você não está comigo
[O cara com certeza já tá dando uns pegas em alguma vadia por aí e pra piorar ela viu!]

[Aí a música já começa a ficar com um ritmo mais intenso e catártico]
Nessa nossa disputa
Nesse seu jeito bom
Eu não quero saber
Você vai desdenhar
E vai sofrer
[Depois dos irônicos dois primeiros versos ela se reergue e começa a querer vingança!]

[Então ela grita "catárticamente":]
Você vai me destruir
Como uma faca cortando as etapas
Furando ao redor
Me indignando, me enchendo de tédio
Roubando o meu ar
Me deixa só e depois não consegue
Não me satisfaz
[Como toda mulher vingativa, fere a masculinidade do homem, dizendo que ele é péssimo de cama e que tem o negócio pequeno! rsrsrsrs]

[Mais aí, sendo trouxa, como uma verdadeira mulher, ela não aguenta e diz:]
Pensando em te matar de amor ou de dor eu te espero calada
[Ahhhh o ápice pra mim! Eu amo essa frase com todas as minhas forças!! ahuahuahua isso é muito bom!!]

Depois de ler isso, por favor, baixem essa música, comprem o cd, whatever, ouçam, please! Ou vocês vão amá-la como eu ou no mínimo se divertirão horrores!! Enjoy it!

12 Corazones

Esta foto é de um programa de namoro na tv chamado 12 Corazones, da emissora Telemundo, a emissora mexicana dos EUA, no qual eu participei. Pois é amigos, a minha relação com o México não se restringe apenas a um nome duplo, é muito mais do que isso... é como se eu já tivesse entrado em suas casas através desse programa tão famoso. Há uma relação de amor entre nós... mais da minha parte, é claro, já que eu tomei um toco em rede nacional nesse dia [rsrs], mas eu já superei e estou aqui para contar esta estória:

Como muitos já sabem, passei minhas últimas férias nos EUA participando de um programa de intercâmbio chamado Work Experience, que nada mais é do que trabalho remunerado durante as nossas férias de verão. Lá precisei fazer muitos "bicos" para sobreviver, obviamente que sem perder a dignidade. Um deles foi participar da audiência dos programas de auditório. Mas sempre sem nenhuma grande participação. Até que um dia, um certo homem apareceu no hostel onde eu estava hospedada procurando jovens que falassem fluentemente o espanhol. E eu que não falo fluente mas que engano super bem, fui convidada a participar do tal programa. De início fui com 2 outras amigas que embora nao falassem muito, tentariam participar do programa, já que eram "boa pinta" [rsrs]. Chegando no estúdio, depois de termos sido pegas no hostel por um carro todo maneiro com motorista, as meninas não aceitaram participar, pois já que elas não falavam bem o espanhol elas precisariam usar roupas provocantes e insinuantes para as câmeras. Eu que me virava bem no espanhol, não precisaria de nada disso. Então, as meninas voltaram pra casa e eu lá fiquei. Em seguida fui levada pro camarim para ser maquiada, penteada e etc, coisas que toda estrela de tv precisa fazer antes de ir ao ar [rsrs]. Depois desse longo processo [rsrs], fomos pra uma sala passar o texto com o diretor, pois nesses programas tudo é previamente combinado, todas as dancinhas, todas as perguntas e respostas e até quem vai ficar com quem. Enquanto isso tomávamos champagne e comíamos deliciosos canapés a vontade - o que foi a melhor parte [rsrs].

O programa em si era bem divertido, absolutamente mexicano! Com uma apresentadora coroa do tipo gostosona de mini-saia, o programa era composto de 8 mulheres e 4 homens, cada um ali representando um signo, o meu no dia era o de sagitário. Na entrada tinha um astrólogo que falava alguma baboseira referente a cada um. No grupo das mulheres tinha uma líder que era quem menos roupa vestia e quem mais rebolava, assim como no grupo dos homens. O meu dever era apenas colocar fogo nas discussões e irritar os homens, fazendo rolar muito bate-boca. O tema era se as mulheres ficavam mais "dadas" quando bebiam e se a bebida que os homens lhe ofereciam queria dizer alguma coisa sobre as suas intenções. Ahh, mas não deixei por menos, falei muito e coloquei fogo no debate... tanto que fui a última a ser eliminada.

A minha eliminação foi algo triste. Eu precisava ir pro meio do palco, dar uma voltinha para q a rapazeada conferisse o material, e dizer no microfone por quem eu estava interessada e porque. Então, o rapaz era chamado ao centro, me dava as mãos e dizia olhando nos meus olhos: "No, yo no te quiero"!! Aí a platéia toda soltava um "ahhhhhhh", e eu triste, abaixava a cabeça e saía do palco, com muitos aplausos do público. No momento eu só pensava: Graças a Deus que isso não passa no Brasil, porque senão eu seria zoada pro resto da minha vida. Mas o melhor de tudo, foi ouvir nos bastidores do cara que me deu o toco que ele ficou muito triste por não ter podido me beijar, pois para ele eu era "la más guapa". [rsrsrs] Mas, então, voltei feliz de motorista particular pra casa com 80 doletas no bolso - o real motivo pra eu ter aceitado participar[rsrsrs]. E desde então, eu prossigo esperando o meu galã mexicano, já que ainda não chegamos no final dessa novela! [ainda bem!][rsrsrs]

Eu nunca assisti novela mexicana!

Não, eu nunca assisti novela mexicana. Tá bom vai... confesso que assisti Carrossel e Chiquititas, mas poxa eu era criança, e todos os "pecados" dessa idade são hoje perdoáveis. Depois dessa afirmação, você que não tem nada pra fazer e por isso está aqui lendo, deve estar se perguntando: então porque esse título?! Bom, isso a descrição do blog, que fica bem abaixo do título já explica: devido aos nossos criativos pais. Na verdade meu nome é até americano demais pra aparecer numa novela mexicana, mas depois que você tem como grandes amigas uma Carolina Maria, uma Alice Teresa, uma Rossana Cristina, uma Ingrid Cristine e até uma Daiane Paula... ah meu querido, aí qualquer nome composto vira protagonista de novela mexicana.

E assim descobrimos que a força desses nomes nos faz ver o mundo sobre um outro ângulo, talvez mais obtuso que o normal, com as falas mal ensaiadas dando pouca veracidade a cena, diálogos clichés, cores desbotadas, acontecimentos dramáticos, figurinos fora de moda, cabelos cheios e cacheados e um final feliz. Ahhh o final feliz, a cena mais esperada, o beijo mais ardente com o galã da novela, o casamento na Igreja, a gravidez, os lindos filhos.. enfim, tudo o que todas nós sonhamos.