quarta-feira, 11 de junho de 2008

Poesia


Não era o que eu procurava quando encontrei este poema abaixo no meu livro querido do Manuel Bandeira - Estrela da Vida Inteira. Mas quando me deparei com esses versos não pude deixar de ser tomada por sua beleza e dramaticidade. Pensei inclusive em dizer feminilidade também, mas quando se trata de amor feminilidade e dramaticidade são verdadeiros sinônimos.
O eu-lírico é uma mulher angustiada, com medo de um sentimento que de tão intenso a machuca profundamente. Seu sofrimento é tanto que ela prefere entregá-lo, desistir dele, pensando assim, na separação. Mas no fundo o que ela tem é insegurança e saudade. Deseja que seu amado esteja ali, ao seu lado, para pra sempre amá-la. Bonito né?! Enjoy!


A Vigília de Hero


Tu amarás outras mulheres
E tu me esquecerás!
É tão cruel, mas é a vida. E no entretanto
Alguma coisa em ti pertence-me!

Em mim alguma coisa és tu.

O lado espiritual do nosso amor

Nos marcou para sempre.

Oh, vem em pensamento nos meus braços!

Que eu te afeiçoe e acaricie...


Não sei porque te falo assim de coisas que não são.

Esta noite, de súbito, um aperto

De coraçõ tão vivo e lancinante

Tive ao pensar numa separação!

Não sei que tenho, tão ansiosa e sem motivo.

Queria ver-te... estar ao pé de ti...

Cruel volúpia e profunda ternura dilaceram-me!


É como uma corrida, em minhas veias,

De fúrias e de santas para a ponta dos meus dedos

Que queriam tomar tua cabeça amada,

Afagar tua fronte e teus cabelos,

Prender-te a mim por que jamais tu me escapasses!


Oh, quisera não ser tão voluptuosa!

E todavia

Quanta delícia ao nosso amor traz a volúpia!
Mas faz sofrer... inquieta...

Ah, com que poderei contentá-la jamais?

Quisera calmá-la na música... Ouvir muito, ouvir muito...
Sinto-me terna... e sou cruel e melancólica!


Possui-me como sou na ampla noite pressaga!

Sente o inefável! Guarda apenas a ventura

Do meu desejo ardendo a sós

Na treva imensa...
Ah, se eu ouvisse a tua voz!

4 comentários:

Anônimo disse...

Altamente subliminar...
Pra quem entender...

Anônimo disse...

mas discurdo quanto ao eu-lirico ser mulher...

Anne Katheryne disse...

Isso não é discutível.. isso eh um fato... não tem nada de subjetivo quanto ao sexo do eu-lírico...

Anônimo disse...

Bom... acho que esta senhora é uma profissional...